O VERDADEIRO CUSTO dos Atacarejos no Brasil: Economia para quem?

A revolução silenciosa no consumo brasileiro

Nos últimos anos, galpões gigantes com produtos empilhados até o teto começaram a dominar a paisagem urbana do Brasil. Eles se chamam atacarejos, uma mistura de atacado com varejo, que promete economia para o consumidor e geração de empregos para as cidades.

Mas por trás da aparente simplicidade desses modelos — corredores largos, empilhadeiras em ação, carrinhos cheios — existe uma transformação profunda e uma série de impactos que passam despercebidos pela maioria da população.

🧐 Neste artigo, vamos explorar os bastidores do modelo de atacarejo no Brasil: quem realmente ganha com ele, quem perde, como as cidades são afetadas e quais são os riscos de mantermos esse formato como símbolo de progresso.


🛒 O que é um atacarejo?

Um atacarejo é um modelo híbrido que junta as lógicas do atacado (venda em grandes volumes) com o varejo (venda direta ao consumidor final).

➡️ Objetivo: vender mais barato, com margens reduzidas e menos serviços.
➡️ Formato típico: galpões sem climatização, empilhamento em paletes, corredores amplos, sem empacotadores.
➡️ Foco: tanto famílias que compram em grande quantidade, quanto pequenos comerciantes que abastecem seus negócios.

📈 Nos últimos 5 anos, mais de 1.000 novas unidades foram abertas no Brasil, e mais de 43 milhões de lares compram em atacarejos com frequência.


📉 A origem do boom: crise e necessidade

A ascensão do atacarejo está diretamente ligada à crise econômica iniciada em 2014. Alta da inflação, queda do poder de compra e aumento do desemprego criaram um cenário perfeito para um modelo de consumo mais barato.

💡 Enquanto muitos modelos de negócio encolhiam, os atacarejos cresceram rapidamente. Grandes redes como Assaí e Grupo Mateus investiram pesado, transformando o formato em potência nacional.


💰 A promessa da economia — e a realidade dos incentivos

Um dos grandes trunfos dos atacarejos são os regimes fiscais diferenciados.

Exemplos:

  • Minas Gerais e Espírito Santo: ICMS reduzido para até 1%.

  • Outros estados oferecem isenções, incentivos de terreno e subsídios locais.

🏛️ Enquanto o pequeno comerciante paga impostos pesados, o atacarejo se instala com benefícios generosos, criando um campo de jogo desequilibrado.


⚖️ Concorrência desigual e fechamento dos pequenos

Ao entrar em funcionamento, o atacarejo não apenas concorre com supermercados tradicionais — ele aniquila a competição.

📉 Resultados:

  • Supermercados fechando (Carrefour Center Norte, Hirota, Dia).

  • Receita dos supermercados paulistas caiu em 2023, mesmo com inflação sob controle.

  • Pequenos comércios de bairro desaparecendo.

🧨 O que parece uma vitória para o consumidor é, na verdade, um cenário de canibalização do varejo, onde só os gigantes sobrevivem.


🚧 Impacto urbano: cidades que pagam a conta

Atacarejos demandam infraestrutura específica:

  • Vias largas

  • Estacionamentos extensos

  • Acessos logísticos

  • Iluminação reforçada

⚠️ Tudo isso é bancado com dinheiro público, enquanto o retorno em impostos é, muitas vezes, irrisório.

“Montam-se centros de distribuição onde o custo econômico é maior, só para obter benefícios fiscais.” — Bernard Appy

Além disso, quando se instalam em áreas periféricas, obrigam o município a construir do zero a infraestrutura necessária. O resultado é um custo urbano invisível, mas crescente.


👷‍♂️ Geração de empregos: quantidade ou qualidade?

Sempre que um atacarejo é inaugurado, uma das manchetes padrão é:

“Nova unidade gera 300 empregos diretos.”

Mas vamos analisar isso com calma:

🔹 Cargos oferecidos: caixa, estoquista, operador de empilhadeira, repositor.

🔹 Salários: em geral, próximos do piso da categoria.

🔹 Oportunidade de crescimento: muito limitada.

Ou seja, empregos são gerados, sim, mas com baixa qualificação e pouca perspectiva.

📌 E mais: para cada atacarejo que abre, vários comércios de bairro fecham, eliminando empregos mais personalizados e locais.


🏭 E se o modelo saturar?

O Brasil ainda vive o auge dos atacarejos, mas o modelo já mostra sinais de saturação nos EUA.

🇺🇸 Cidades americanas estão cheias de “elefantes brancos” — grandes lojas abandonadas, difíceis de reutilizar.

💣 E no Brasil? Ainda é raro, mas basta o mercado mudar, o crédito encolher ou os incentivos cessarem para que centenas dessas estruturas fiquem vazias.

🏚️ Um galpão de 5.000 m² não vira creche ou mercado orgânico com facilidade. O risco é deixarmos cicatrizes urbanas permanentes.


🌍 O exemplo da França: resistência popular

Na França, o Carrefour tentou abrir um Atacadão em Sevran, na região metropolitana de Paris. O projeto foi barrado pela própria comunidade local, com apoio do prefeito.

🗣️ Declaração oficial:

“Este projeto ameaça 350 empregos existentes, degrada a oferta comercial e vai contra o plano sustentável da cidade.”

👀 Ou seja, enquanto no Brasil esses empreendimentos são vistos como sinal de progresso, em outros países eles enfrentam resistência por conta dos impactos sociais e urbanos.


📊 Dados reveladores: quem consome mais?

Surpreendentemente, os principais clientes dos atacarejos são das classes A e B.

🧾 Dados da NielsenIQ:

  • Classe A/B: 75% compram em atacarejo

  • Classe C/D/E: 63% — e subindo

Isso acontece porque muitos atacarejos ainda estão fora dos grandes centros, exigindo carro próprio e poder de compra.

❗ Com o tempo, isso tende a mudar — e a penetração nas classes mais baixas já está crescendo de forma consistente.


🤖 Eficiência real ou vantagem artificial?

É fato: os atacarejos operam com mais eficiência que supermercados tradicionais.

✅ Menos funcionários
✅ Estoques no próprio salão de vendas
✅ Menor variedade = menor custo logístico
✅ Compras em grande volume = mais barganha com fornecedores

Mas… será que precisam mesmo de incentivos fiscais?

💡 A resposta de muitos especialistas é não. Com a estrutura que têm, já seriam lucrativos sem subsídios.


🧩 Um jogo com cartas marcadas

Enquanto os grandes contam com escala, eficiência e benefícios fiscais, o restante do setor precisa sobreviver com a margem apertada e uma carga tributária injusta.

🎲 O resultado?

  • Concorrência desleal

  • Monopólio silencioso

  • Dependência fiscal insustentável

Isso cria um ciclo vicioso: se uma cidade não dá incentivo, a loja vai pra vizinha. Todo mundo perde, exceto os grandes grupos.


🧭 Caminhos possíveis para o futuro

✅ Livre concorrência

Reduzir incentivos e permitir que o mercado se regule pela eficiência, não pelos privilégios.

✅ Incentivos condicionados

Se forem mantidos, que estejam atrelados a metas claras de emprego, formação, investimento local e inovação.

✅ Reurbanização preventiva

Planejar o que fazer com os galpões antes que fiquem obsoletos.

✅ Fiscalização ativa

Verificar o cumprimento de contrapartidas antes de liberar benefícios fiscais.


📣 Conclusão: Quem realmente paga essa conta?

A fachada moderna, o estacionamento lotado, os carrinhos cheios — tudo isso dá a impressão de progresso. Mas por trás do brilho das inaugurações, há um custo oculto.

👤 Você, consumidor, paga quando a padaria da esquina fecha.
👨‍👩‍👧‍👦 Sua família sente quando o comércio de bairro desaparece.
🏙️ Sua cidade paga com infraestrutura sobrecarregada.

📌 É hora de olharmos além da promoção no papel higiênico e perguntarmos:

Essa economia de hoje está construindo um país mais justo amanhã?


🗨️ E você?

 

Você acha que os atacarejos ajudam ou atrapalham sua cidade? Já percebeu alguma mudança no seu bairro desde que eles chegaram? Comente abaixo 👇 e compartilhe este artigo com alguém que também precisa refletir sobre isso.

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